A primeira respiração da manhã em Grenada sabe a especiarias. Fica na língua antes de você ter comido qualquer coisa — folha de louro soprada pela brisa do mar, noz-moscada que parece a luz quente do sol na palma da mão, e um sussurro de cacau, terroso e elegante, do jeito que casas de madeira antigas guardam o cheiro de suas décadas. Já acordei na Ilha das Especiarias com galos e ondas, mas o que me chama para a cozinha é a promessa do chá de cacau: uma panela borbulhando com bastões de cacau ralados e folhas, adoçado o suficiente, engrossado para acolher a colher, soltando vapor no dia como uma história que você vai querer contar.
Na Grenada, o chá de cacau não é simplesmente chocolate quente com outro nome. É um ritual de café da manhã e um patrimônio culinário, uma bebida que relembra campos e casas de secagem, fofocas do mercado e o trajeto desde St. Patrick a St. George’s com as janelas abertas para que o perfume de bois d’Inde soprasse direto para dentro. Este é o cacau como uma ilha o bebe: temperado, levemente reforçado com farinha ou amido de araruta, profundamente aromático — de modo que ele preenche o corpo e o humor.
O chá grenadiano de cacau tem uma estrutura. Não é apenas uma xícara de cacau derretido. Ele começa com um bastão de cacau — às vezes chamado de bola de cacau — feito de grãos de cacau fermentados, secos, torrados e moídos, que são moldados e curados até que a manteiga de cacau e os sólidos de chocolate se unam em uma haste densa. Este bastão é ralado como um condimento forte e batido vigorosamente em água fervente perfumada com casca de canela, cravo-da-índia e folha de louro das Índias Ocidentais (bois d’Inde). O caldo é então levemente engrossado com uma pasta de farinha ou amido de araruta — o suficiente para lhe dar um corpo macio, entre uma bebida e um pudim ralo. Leite (evaporado, condensado, de coco, ou uma mistura) é adicionado para suavizar as bordas, e noz-moscada — sempre ralada na hora em Grenada — coroa a xícara.
O resultado é camadas: um brilho de manteiga de cacau na superfície que se acumula em minúsculos olhos iridescentes, um toque de especiarias que é marcante e amigável, e uma textura com a calma firmeza de um mingau bem feito. É rico sem ser enjoativo e se sustenta bem com cafés da manhã salgados, como pães fritos recheados com peixe salgado — um equilíbrio que define como os Grenadianos encaram o alimento matinal.
A praça do mercado em St. George’s tem seu próprio coro. Os vendedores chamam com um ritmo que lembra que a comida não é algo estático; é vendida com gestos e risadas. Há uma mulher de Gouyave que enrola paus de canela em cones de papel, como alfaiates ajustam uma manga. Um jovem desliza a palma sob uma pilha de limões verdes brilhantes, deixando-os rolar entre os dedos antes de colocá-los em uma sacola. Folhas de louro pendem em cachos, escuras e medicinais. Em algum lugar, um rádio toca soca suavemente, um pouco riscado, como se a música estivesse evoluindo sob seus pés.
Quando peço bastões de cacau, a comerciante se abaixa sob um tecido e os puxa da forma como você retira uma foto de família da carteira — algo precioso e guardado. Os bastões são estriados e de cor marrom-escuro, seu aroma surpreendentemente suave até você riscá-los com uma faca e liberar uma névoa súbita de cacau, fumaça de madeira de maçã e couro. A mulher me diz que usa uma folha ou duas de bois d’Inde, uma casca de canela quebrada na mão, alguns cravos e uma pitada de farinha para ligar. Só uma pitada, repete, piscando. Ela me serve uma pequena xícara do chá que ferve em uma panela amassada atrás de sua barraca.
A xícara é esmaltada, com a borda lascada, o tipo de objeto cotidiano precioso demais para ser aposentado. O chá rola pela minha língua: chocolate primeiro, depois folha de louro, e então um brilho doce-cítrico da noz-moscada fresca. Não é sobremesa; é o café da manhã em forma de calor reconfortante. Apoio-me em um caixote e saboreio lentamente, sentindo a cidade acordar ao meu redor. Isto é o que o chá de cacau oferece — calor, mas também a sensação de que o dia já começou com o pé direito.
Um bastão de cacau é um pequeno milagre de processo. Cada um carrega a memória dos grãos que se viram para o chocolate por meio da fermentação, uma transformação que começa na fazenda muito antes de entrar na sua panela.
Quando você rala um bastão de cacau, a gordura e os sólidos são liberados juntos, por isso o chá precisa ser batido e fervido o bastante para emulsificar esses componentes na presença de amido e leite. Não é difícil; só pede atenção e um pouco de paciência.
Para uma panela que rende 4–6 xícaras, reúna o seguinte. Mais importante ainda, respeite a personalidade de cada ingrediente; esta bebida é um coro em algumas manhãs e um solo em outras.
Método:
Sugestão de servir: Monte a mesa com fried bakes, uma tigela de salt fish buljol e fatias de banana-da-terra madura. Observe a conversa se desenrolar enquanto o vapor escreve sua própria pontuação acima de cada xícara.
Notas do chef:
Pense no seu chá de cacau como uma pequena orquestra. Aqui vai uma proporção inicial para 4 xícaras de água, e como ajustar cada seção:
Dicas de afinação:
Na minha última manhã antes de deixar Grenada, levei meu chá de cacau para a varanda e sentei onde pudesse ver um trecho do mar, azul-acinzentado e sereno. A xícara esquentou minhas mãos, e o ar carregava a mesma doçura de noz-moscada que eu vinha inalando durante a semana. Entendi então por que o chá de cacau é tão fiel aos Grenadianos: é a ilha, reduzida, batida e sussurrada em uma forma que você pode segurar — o cacau lembrando a fazenda e os grãos que dançam, a folha de louro lembrando as sebes, a noz-moscada lembrando seus turnos na moenda na banca do mercado.
Quando você o faz em casa, carrega essas memórias adiante, mesmo que a sua visão seja de telhados da cidade ou de neve chegando à janela. O ritual é o mesmo: disponha as especiarias, rale o cacau, bata até que a cozinha cheire a possibilidade, e compartilhe. Que o primeiro gole seja uma pequena cerimônia de gratidão. O chá de cacau grenadiano não é apenas chocolate quente; é a forma de uma ilha de dizer bom dia com significado, indo até o último, suave, toque de noz-moscada no fundo da xícara.